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Chão de Terreiro

A cantora baiana Gloria Bomfim lança pela Acari Records novo CD com 13 músicas inéditas de Paulo Cesar Pinheiro, a ela confiadas pelo próprio autor.

Após o sucesso do seu primeiro álbum Santo e Orixá (Acari Records), relançado por Maria Bethânia com o título de Anel de Aço (Quintanda/Biscoito Fino) – com 14 músicas inéditas de Paulo Cesar Pinheiro – a cantora baiana Gloria Bomfim presenteia o seu público fiel e crescente com o novo CD Chão de Terreiro (Acari Records).

As 13 músicas inéditas desse novo trabalho seguem o perfil do anterior, homenageando temas da cultura afro-brasileira. São cantigas de santo, sambas, samba-de-roda e toadas, arranjados pelo violonista Rafael Mallmith com acompanhamento de músicos jovens da maior qualidade, com participaçao especial de Luciana Rabello em duas faixas. As obras de Paulo Cesar Pinheiro encontram na voz única e personalíssima da cantora, numa interpretação forte, sensível e especialmente empoderada. Afinal, Gloria nasceu e foi criada nos terreiros de santo da Bahia.

Nascida em Areal (BA), canta desde ainda muito pequena, quando já encantava a todos do alto de um banquinho ou de caixotes, animando as festas da sua cidade e arredores. Ainda adolescente, mudou-se para o Rio e começou a frequentar os sambas de sábado na Portela, chamando a atenção do Mestre Marçal, que animado com sua voz, deu-lhe o apelido de “Baianinha” e convidou a moça para participar das apresentações da Velha Guarda. Mas, Gloria não atendeu ao chamado. A imperativa necessidade de criar seu primeiro e único filho falou mais alto. Era preciso trabalhar com a sua segunda grande vocação – a cozinha. E, daí pra frente, um longo percursso em busca da sobrevivência no Rio de Janeiro afastou a cantora do seu sonho de se tornar uma cantora profissional, de viver para a música.

Mas, a música não esqueceu dela e eis que em 2007, é convidada por Luciana Rabello para gravar seu primeiro CD. As portas de abriram! Muitos shows pelo Brasil, conquistando público cada vez maior e o respeito da classe musical.

E esse ano, Gloria contempla a todos com Chão de Terreiro! Mais um sucesso à vista!

Chão de Terreiro
(Acari Records – 2018)

Release Gloria Bomfim

A cantora Glória Bonfim é uma das mais expressivas e autênticas vozes que conheço. Seu canto primitivo, forte, verdadeiro, despretensioso e absolutamente intuitivo é um diamante bruto que representa, de forma emocionada, a cultura dos terreiros de candomblé, trazida pelos negros africanos e mantida aqui pelos mestiços brasileiros. Resolvi registrar o que ouvi, cumprindo tanto quanto possível o papel de repórter, interferindo minimamente e apenas quando necessário. O repertório inédito foi recolhido da obra de Paulo César Pinheiro, compositor preferido da cantora, que a ela o entregou como um presente. Todas as músicas abordam temas ligados ao candomblé, e muitas têm a forma de cantigas de santo, utilizadas em rituais. Reuni alguns dos amigos que mais gosto, músicos que entendem e respeitam essa linguagem e que já admiravam a Glória das rodas na minha casa. Todos acertaram em cheio. A característica dessas cantigas se iniciarem por uma invocação, puxada pelos babalorixás ou yalorixás e respondida pelo coro das yaôs, foi respeitada por todos, se impondo aqui a qualquer concepção de arranjo. A energia que rolou no estúdio deixou claro que os orixás ficaram satisfeitos e aprovaram nossa homenagem. Axé!

A história dessa baiana é comovente e cinematográfica. Nascida em Areal, um pequeno povoado no interior da Bahia, Glória era requisitada desde muito menina pra cantar nas redondezas, em festas de casamento, batizados etc. Ela conta que muitas vezes foi tirada da cama por seu Tutu, festeiro do lugar, vestindo um camisú (daqueles de cambraia com calçola igual) e levada no balaio de um jegue pra animar essas festas. Não havia rádio e muito menos disco naqueles lugarejos em que a festa dependia dos músicos e cantores da região. Filha de Domingas e Miguel, a pequena intérprete de 8 anos agradava a todos com sua voz potente. De cima de um caixote de madeira, era ouvida de longe, garantindo boa dança e boa festa! Década de 60, o rock chegando às capitais, e o hit da pequena cantora era a valsa Viagem, de João de Aquino e Paulo César Pinheiro. A partir daqueles dias, a menininha começa a sonhar em ser cantora de verdade. Aos quatorze anos veio pro Rio à procura de melhores oportunidades. Exerceu diversas profissões e continuou cantando, nos finais de semana, nas rodas de samba do subúrbio, nas quadras de escolas de samba. Ali conheceu mestre Marçal que, encantado com sua voz, apelidou-a de Baianinha e convidou-a para as rodas da Velha Guarda da Portela.

Glória chegou a ir a algumas, mas em seguida Marçal faleceu e sua vida tomou outro rumo. Logo depois a conheci e, desde a primeira vez que ouvi seu canto, senti o que estava ali. Voz rascante e afinada, com volume impressionante, precisão rítmica admirável. E tinha cultura, ancestralidade. Seu repertório era irretocável. Comecei a reparar também que Paulo César Pinheiro era o compositor mais constante, com diversos parceiros: Mauro Duarte, João Nogueira, Eduardo Gudin e, naturalmente, João de Aquino. Quando decidi produzir esse disco pedi ao Paulinho Pinheiro, que também gosta da voz da Baianinha, músicas que tivessem o candomblé como tema. E o poeta tinha essas pérolas guardadas! O resultado está aí e com grande alegria compartilho com vocês a emoção de ouvir Gloria Bomfim.

Luciana Rabello

Santo e Orixá
(Acari Produções – 2007)
Anel de aço
(Quitanda – 2011)
Foto com Paulo César Pinheiro
Foto com Maria Bethânia
Foto com Paulo César Pinheiro e Luciana Rabello
Vencedora do Concurso
Carioca da Gema – 2013
Vencedora do Concurso
Carioca da Gema – 2013